Vou falar sobre a pureza de coração como um monge de 76 anos, após 50 anos de sacerdócio. Primeiro, é preciso saber o que o próprio Senhor Jesus diz sobre a pureza de coração. Em relação ao perigo do pecado contra a pureza, Ele dá um exemplo ilustrativo sobre cortar a mão ou o pé e arrancar o olho.
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Aos dezesseis anos li literatura pré-conciliar que esclarecia verdadeiramente esta esfera moral. Era o livro tcheco “Mladý muž se dívá do života” (Um jovem olha para a vida), do Cardeal František Tomášek; “Čistým duším” (Às almas puras), do professor e padre Čeněk Tomíško; “Čisté dospívání” (Castidade e juventude), do Bispo Tihamér Tóth; e outros. O tema da homossexualidade, da transexualidade ou outros desvios sexuais não era abordado de modo algum nos livros. Esse problema não existia naquela época. Os livros davam talvez apenas uma breve advertência sobre a homossexualidade de acordo com a Bíblia. A imoralidade sexual era categoricamente rejeitada. Também eram proibidos filmes imorais e toda a pornografia. Os jovens eram advertidos de que evitassem a ocasião próxima de pecado. Sob nenhuma circunstância pode-se jogar com este perigo. A literatura pré-conciliar oferece exemplos muito encorajadores de verdadeiro heroísmo ligado à pureza de coração. Esta luta se compara com o heroísmo do martírio incruento. Essa literatura mostrava uma relação com a formação moral e espiritual do jovem como um todo.
Está claro nas Sagradas Escrituras e nos ensinamentos católicos que os relacionamentos íntimos pré-matrimoniais são um pecado grave. O pecado da masturbação também é qualificado como um pecado grave. Só se explica que em alguns casos pode não ser um pecado grave. Nesta luta tão difícil consigo mesmos, os jovens são aconselhados a se confessarem o mais rápido possível após a queda, a receberem a Sagrada Comunhão com a maior frequência possível como medida de precaução, bem como a ter devoção à Imaculada Mãe de Jesus. Baseando-se em sua experiência, alguns autores recomendam a prática de rezar três Ave Marias diariamente para a proteção. Outros recomendam consagrar-se à Mãe de Deus seguindo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort. Nesta luta pela pureza de coração, é preciso também pedir a ajuda de Deus, porque não é apenas uma luta contra os desejos desordenados. Muitas vezes há um ataque de força invisível – um demônio impuro – por trás deles. No Evangelho, Jesus fala muitas vezes sobre um espírito imundo. Ele libertou as pessoas escravizadas por demônios impuros de sua escravidão. Aprendemos também que os demônios impuros frequentemente causam doenças, como surdez, mudez, cegueira, paralisia…
O pecado repetido torna-se um hábito. Isso enfraquece e altera a psique. Portanto, um demônio pode facilmente entrar e controlar a vontade da pessoa escravizada. A cura da psique é muitas vezes um processo longo e, em proporção a isso, os ataques do espírito imundo vão diminuindo.
A luta pela pureza de coração exige o radicalismo evangélico. Isso significa, acima de tudo, evitar a ocasião próxima de pecado. É necessário se distanciar de filmes e literatura imorais e da pornografia. Hoje em dia, essas coisas são acessíveis a todos, inclusive às crianças, através da Internet. Portanto, é necessário impor a censura para evitar a propagação da imoralidade. O valor moral do ser humano e a salvação da alma são de suma importância.
O outro grande mal é a desmoralização deliberada das crianças em idade escolar, e até mesmo das crianças pequenas, por meio do sistema educacional modificado. O pecado não é chamado de pecado. Está justificado. Além do mais, as crianças são literalmente induzidas a cometer pecado. Isso é um crime contra a geração jovem e a sociedade como um todo. Uma pessoa subjugada por paixões impuras perde a fé em Deus e evita tudo que possa despertar sua consciência sobre seu pecado e suas consequências. As paixões impuras andam de mãos dadas com outros vícios, entorpecendo a consciência e a mente. São muitas vezes associadas ao alcoolismo, às drogas, ao ocultismo, ao cinismo, à música decadente, à rebelião contra Deus, ao crime, ao satanismo… Podemos ver que o casamento não é a solução. As estatísticas extremamente preocupantes do aumento das taxas de divórcio são a prova disso. Nem mesmo o sofrimento dos filhos que perdem seus lares é capaz de impedir o divórcio dos pais. A paixão e o pecado são ainda mais fortes do que o amor dos pais.
No casamento sacramental, essa força sexual é regulada e relacionada ao auto-sacrifício, à fidelidade conjugal, à criação dos filhos e à responsabilidade pela família. O amor sexual (eros) tem uma ordem natural e moral no casamento, e com a idade transforma-se em amor amigável (philia) ou, em outras palavras, em fidelidade até a morte. Os cônjuges que observam as leis de Deus se sacrificam um pelo outro e juntos por seus filhos. Aqui, philia torna-se ágape: amor divino. Eles se amam em Cristo até a morte. Ambos estão dispostos a fazer os maiores sacrifícios um pelo outro só para salvar a alma do cônjuge para a vida eterna. O casamento cristão, que cumpre os mandamentos e as leis de Deus, está entrelaçado com a cruz de Cristo e se torna um paraíso terrestre e um lar amoroso para os filhos. Uma família assim é um bom exemplo não apenas para seus filhos, mas também para seu entorno. Portanto, os cônjuges precisam de uma fonte de instrução saudável e de encorajamento; devem se lembrar de rezar juntos todos os dias, especialmente na hora santa das oito às nove da noite.
É importante saber que a juventude pura é a melhor preparação para um casamento feliz.
Os religiosos e sacerdotes, mesmo que tenham feito voto de castidade a Deus por toda a vida, devem estar conscientes de que não estão isentos da tentação e da luta pela pureza do coração. Mais cedo ou mais tarde, cada um deles – talvez com algumas honrosas exceções – enfrentará uma provação existencial. Como ter certeza de suportar a provação? Esforce-se por viver plenamente sua vida consagrada, de coração! Evite a ocasião de cair no pecado, não brinque com fogo e lute pela pureza de coração. Isto requer uma verdadeira autocrítica, o espírito de oração interior e uma verdadeira comunidade religiosa ou sacerdotal. Os sacerdotes dedicados à pastoral devem passar pelo menos um dia inteiro por semana em oração e comunhão fraterna… (ver At 2,42). Eles também devem observar um dia de oração penitencial por mês; trata-se da lua nova bíblica ou do chamado Sábado de Fátima.
Se, apesar de ser sincero diante de Deus, você foi enganado pelo inimigo no âmbito da castidade, arrependa-se de verdade imediatamente após confessar esse pecado. O verdadeiro arrependimento derrota não apenas o demônio do orgulho e do autoengano, mas também o demônio impuro que enganou sua mente e assumiu o controle da sua vontade. Aqui, também, a causa da queda foi a cegueira — o orgulho — que, como diz o ditado, “precede à queda”. Uma pessoa que evita a lei de Deus entorpece conscientemente sua consciência. Ignora pequenos deslizes no início, o que finalmente leva a uma queda trágica. Desejo recordar: gerações inteiras de santos monges e sacerdotes que nos precederam respeitavam as leis de Deus e viviam uma vida de castidade. Você também não pode se alinhar com o espírito deste mundo. O espírito deste mundo nos separa de uma comunhão viva com Deus. Faz-nos ver a oração como um fardo insuportável. Mas continua sendo verdade que os santos se tornaram santos através da oração; Eram homens e mulheres de oração! A oração interior é realmente a base da vida espiritual de um monge e de um sacerdote. Na oração, deve-se combater tanto a preguiça física e mental, como a distração. Não vou falar agora da experiência da oração interior, que é uma relação pessoal com nosso Senhor e Salvador. Suponho que estou falando principalmente para as almas que oram com regularidade e levam uma vida espiritual. A verdadeira comunhão sacerdotal é uma ajuda eficaz para cada sacerdote isolado.
Hoje em dia, os sacerdotes e religiosos estão expostos à influência do mundo, especialmente através do celular e da Internet. Agora, a necessidade de autodisciplina é maior do que era há 70 anos com a chegada da televisão. Por isso, essa luta contra o espírito imundo mundial, que controla quase todos os meios de comunicação, exige extrema vigilância. Essas influências externas devem ser levadas a sério e vistas como um grande perigo!
O maior perigo, porém, está dentro de nós. Por isso, quero reiterar que um religioso ou sacerdote deve se lembrar de preservar a pureza de seus pensamentos e sentimentos. As palavras de Jesus sobre “cortar a mão ou o pé” se aplicam especialmente aqui. Pode-se abrir a porta para a impureza mesmo sem usar a mão, o pé ou o olho. Mesmo se você cortar suas mãos e pés ou arrancar fisicamente seus olhos, você ainda não estará a salvo de pecar com seu olho interior, isto é, sua imaginação e seus pensamentos e sentimentos impuros.
A batalha pela pureza é mais fácil para os religiosos que, obrigados pelas regras religiosas, revelam imediatamente, a tentação ou o ataque, a seu pai espiritual. Eles também são protegidos por sua comunidade religiosa.
Um pregador zeloso cometeu um pecado contra a castidade e deixou o ministério sacerdotal. A raiz de sua queda foi que ele construiu sua vida espiritual sobre as opiniões mutáveis dos teólogos liberais contemporâneos. Eles se consideram autoridades eclesiásticas, mas não seguem Jesus Cristo. Eles não têm nenhuma experiência de batalha espiritual ou de vida espiritual. São apenas teóricos que talvez possam transmitir algumas informações religiosas interessantes, mas seu ego e seu intelecto são a autoridade máxima para eles. A “loucura da cruz” (1 Co 1, 20-25) e o poder de Deus praticamente não têm lugar em sua vida. Eles sentem tanta empatia pelos pecadores e pelos pecados que acabam tolerando o pecado. Ao fazer isso, se opõem a Deus e à lei de Deus. Hoje estamos colhendo os frutos catastróficos do aggiornamento conciliar, que abriu as portas para o espírito deste mundo.
Que as palavras de Jesus ressoem em nossas almas: “Bem-aventurados os puros de coração”! E Jesus continua: “Eles verão a Deus!” (Mt 5, 8).
Aquele que mantém seus pensamentos e sentimentos puros tem um coração puro. Portanto, é necessário desde cedo, mesmo que doa, cortar uma memória, uma imagem ou um sentimento impuro, sair do lugar onde há perigo de pecado e evitar a ocasião próxima do pecado. Isso requer oração, humildade e verdadeira autocrítica. A salvação da sua alma também depende dessa batalha. Não tenha medo e lute! “Por que você não pode fazer o que tantos outros fizeram?” Santo Agostinho disse uma vez.
Queridos padres e irmãos, é especialmente a vocês, que carrego no coração, que escrevo esta breve carta, mas gostaria também que fosse útil a todos aqueles a quem vocês mostrarem com o seu exemplo o caminho seguro da salvação, que se realiza através do seguimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Há muito tempo sinto que tenho uma grande dívida com vocês e que deveria falar sobre este assunto, pois diz respeito a cada um de vocês. Mais cedo ou mais tarde, vocês podem se deparar com uma provação difícil, então precisam saber quais precauções tomar para superá-la.
Rezo por vocês, para que sejam monges e sacerdotes puros e santos!
Em Cristo
+ Elias
Patriarca do Patriarcado católico bizantino
11 de maio de 2022
Baixar: Bem-aventurados os puros de coração (Mt 5, 8). Carta aos religiosos e sacerdotes (11-05-2022)